domingo, 10 de agosto de 2014

Resenha: E Não Sobrou Nenhum

Autora: Agatha Christie
Editora: Globo Livros
Páginas: 400
Ano: 1939 / edição 2014

"Anteriormente publicado como 'O caso dos dez negrinhos'. 'E não sobrou nenhum' é o maior clássico moderno das histórias de mistério. Dez pessoas diferentes recebem um mesmo convite para passar um fim de semana na remota Ilha do Soldado. Na primeira noite, após o jantar, elas ouvem uma voz acusando cada uma de um crime oculto cometido no passado. Mortes inexplicáveis e inescapáveis então se sucedem. E a cada convidado eliminado, também desaparece um dos soldadinhos que enfeitam a mesa de jantar. Quem poderia saber dos dez crimes distintos? Quem se arvoraria em seu juiz e carrasco? Como escapar da próxima execução?"

Dos livros que li da Dama do Crime, em minha opinião o melhor. E Não sobrou Nenhum é um clássico da literatura mundial, um livro daqueles que se apresenta a alguém que quer começar a ler Agatha Christie.

Um ponto interessante é que antes o livro foi chamado por "O Caso dos Dez Negrinhos" (Quem tem ou leu edições antigas deve saber), mais fiel à tradução literal do original em inglês. Porém, por supostamente ser uma apologia ao preconceito racial, o título foi substituído nos Estados Unidos e, eventualmente, aqui no Brasil também.

Destaco isso com uma parte de uma das sinopses do livro:

"O culpado não é o mordomo, mas um personagem ainda mais cheio de normas, conhecido pelo codinome de 'o politicamente-correto'. Pois foi ele que levou os agentes literários da grande dama inglesa a proporem a mudança de título de 'O caso dos dez negrinhos' (Ten little niggers)[...]"

Mas vamos a obra.
A simples ideia de um livro com muitas mortes diferentes já exige uma preparação para a execução da leitura, uma preparação para o deleite. Aliás, a própria Agatha disse certa vez que escrever este livro foi um de seus maiores desafios, exatamente por fugir um pouco da usual "única morte" e, claro, da forma de investigação.

Pela primeira vez não vemos detetives no roteiro, nem Poirot nem Marple. Isso torna a narração sombria, diferente, puro suspense que te prende desde a primeira página!
Minha admiração por esta obra não se dá principalmente pelo desfecho  como na maioria dos livros de Agatha Christie —, mas sim pela estrutura em si do livro, o modo como Christie utilizou suas artimanhas, presenteando-nos personagens totalmente desconhecidos, cheios de segredos e personalidades diferentes, porém com algo em comum...

A alegórica Ilha do Negro, a incógnita chamada "Sr. U N Owen", o emblemático poema, os soldadinhos, tudo é completamente desconhecido e isso nos leva a nos unir com os convidados, ter as mesmas dúvidas, os mesmos receios, medos.
Isso é a prova do quão bem escrito o livro foi, a ponto de nos incluir tão veementemente na trama.

No decorrer da história temos toda a sorte de dúvidas, ideias e mutilações de lógica possíveis, tentando incansavelmente desvendar o que a Rainha vai aprontar desta vez. Como desconhecemos os personagens, nos atemos ao que vimos até o momento, tentando imaginar quem seria inteligente o suficiente para ser o assassino, isso depois de abandonarmos a ideia de que o assassino não está entre eles, o que pode ser um erro... ou não... ¬¬

Há um momento em que não confiamos em uma única personagem (comigo foi assim na maior parte do tempo), mas em determinado momento acabamos nos identificando com alguém, porém com ressalvas. A cada passo, a cada morte, mais ideias mirabolantes, mais receios...

Inevitavelmente, como em todos os livros de Agatha, nós mesmos formamos nossas próprias hipóteses do assassino e de como foram realizados os crimes, mas, como é de praxe, vemos nossos queixos caídos com o final. E dessa vez não foi diferente comigo.

Favorito!

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